"Considerai os lírios, como não fiam, nem
tecem. Contudo, eu vos asseguro que nem Salomão, com todo o seu esplendor, se
vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje
e amanhã será lançada no forno, quanto mais a vós homens fracos na fé."
(Lc 12, 27-28)
É de
impressionar o fato de um homem ter vivido no século XIII numa cidade tão
pequena da Itália (Assis) e ter tido no mundo, século após século, uma presença
tal, que abala as estruturas mais profundas da sociedade e atrai ainda hoje,
peregrinos do mundo inteiro aos seus incontáveis santuários, que impressionados
com sua vida de santidade, desejam homenageá-lo e pedir que ele rogue a Deus,
que pelos méritos de Jesus Cristo sejam concedidas as graças necessárias para
suas vidas.
É de impressionar, o fato de que em qualquer lugar
do mundo, por onde passe, há sempre algo inspirado ou senão totalmente a este
tão glorioso santo, que abala o mundo inteiro pelo seu radicalismo em cumprir o
Evangelho. É de
impressionar ainda mais o fato de se ver, que a Madre Basiléa Schlink,
evangélica (protestante) da cidade de Darmstadk – Eberstadk na Alemanha, ao
fundar a sua comunidade masculina tenha dado a esta comunidade "Irmandade
Franciscana de Canaã", não por achar que o nome "franciscana" é
bonito, mas por querer que a sua comunidade, viva o espírito franciscano, a
exemplo de São Francisco que foi fiel no mais íntimo do seu ser, que abraçou a
vocação que o Senhor lhe confiara até a morte, a exemplo de Jesus que, para
abraçar o plano de salvação para as nossas vidas, foi até a morte e morte de
cruz. (Fil 2,8)
O
Evangelho nos diz que a Palavra do Senhor chegará até os confins da terra. Hoje
nós vemos que ela tem chegado aos mais longínquos lugares. Aqui no Brasil, por
exemplo, nos recantos mais escondidos do Nordeste, é muito bonito se observar a
fé que o povo simples expressa em Deus. Ficamos maravilhados quando vemos como
chegou esta fé até o nosso meio e a única explicação que temos é que ela chegou
pela promessa de Deus de que seu Evangelho chegaria até os confins da terra. Do
mesmo modo, a figura franciscana chegou também até os confins da terra,
mostrando com isso que Francisco e sua obra são um Evangelho vivo, são uma
Palavra de Deus anunciada e manifestada. Em todo lugar e em todo tempo se ouve
falar de Francisco, por meio da sua obra espalhada em todo o mundo.
Mas nós
perguntamos "por que" este homem é muito mais conhecido do que até
mesmo no seu tempo e porque ele ainda inspira tantas vidas a quererem se doar,
se entregar a viver como ele?
A resposta
é clara e simples: primeiramente por sua radicalidade em viver o Evangelho e
depois pelo profundo amor que ele tinha e dedicava ao Nosso Senhor Jesus
Cristo.
A sua
radicalidade em vivenciar o Evangelho o levou ao extremo da pobreza,
respondendo assim ao chamado e ao plano de Deus para a sua vida, que resultou
em assumir, portanto, até as consequências mais extremas deste seu amor à
"dama" pobreza, como ele chamava. O maior desejo de Francisco, o que
sempre moveu a sua vida, foi a liberdade. Ele queria ser livre e achava,
primeiramente, que ser livre era ser um grande guerreiro, lutador nas cruzadas
e receber as honras de um grande e bravo soldado. Mas a doença, maior inimigo
de Francisco, porque simbolizava a prisão dos seus anseios e desejos, tornou-se
para ele encontro com a liberdade, pois por meio da doença, Jesus veio ao seu
encontro e Francisco experimentou a liberdade tão procurada.
Em meio a
sua enfermidade, Francisco encontra Jesus e descobre o amor de Deus por ele. E
algo tão profundo se passa dentro dele que o faz entender que Jesus é a
liberdade. Ele descobre que Jesus era o amor que ele tanto esperava. Francisco
abraça Jesus com a sua vida e renuncia tudo que o impede de viver em toda sua
plenitude a liberdade que ele, por tanto tempo, esperou. Francisco entende e
encarna na sua vida a Palavra evangélica que diz: "Aquele que ama o seu
pai ou a sua mãe mais do que a mim" (Mt 10, 37-39). Ele age assim porque
havia sido capturado por um amor tão grande a Jesus e ao seu Reino, que se
entregou por inteiro. Aquela pessoa que não está totalmente capturada por um
amor pessoal a Jesus, deve entender estas palavras como uma usurpação dos seus
direitos, porém, com Francisco não era assim, ele entendia o mandamento:
"Amar a Deus sobre todas as coisas", e sabia que isso era realmente a
sua vocação, o seu chamado de vida, e que só respondendo aquilo que Deus lhe
chamara para ser, ele iria ser e fazer os outros felizes.
Francisco,
o homem que ainda hoje é um grito de alerta para o mundo, viveu plenamente o
Evangelho, e nenhuma palavra de Evangelho tanto animou quanto a Parábola das
dez virgens (Mt 25,1-15), fazendo com que ele desse toda a sua vida, a fim de
ser contado como uma das cinco virgens prudentes, que permaneceram com suas
lâmpadas acesas abastecidas com óleo. Mas esta parábola tem uma característica
bem particular. Cinco das dez virgens não enchem suas lâmpadas com o óleo e as
outras cinco sim. O óleo que faz as lâmpadas das virgens permanecerem acesas é
o amor a nosso Senhor e Salvador Jesus. Amor este que leva aqueles que o amam a
uma vida de oração profunda e sincera, comprometida na busca do amado Jesus.
Francisco quis ser uma das virgens prudentes e com sua vida nos impulsiona e
nos convida também a sermos almas virgens, prudentes, com o coração cheio de
amor por Jesus Cristo e seu reino, um amor de esposa, o amor esponsal.
Francisco
tinha uma alma esposa de Jesus e sua vida de oração contemplativa, inflamada de
amor por Jesus, transborda num amor profundo a aqueles que são a imagem e
semelhança deste mesmo Deus e Senhor Jesus Cristo, este amor a Jesus faz de
Francisco o mestre da caridade cristã, o modelo humano de servo, o modelo do
homem que ama.
Este amor
de Francisco a Jesus, que transborda para os irmãos é a mola-mestra, o impulso
e o desejo de todos os que trazem em suas almas a vocação Shalom animada pelo
exemplo da figura de São Francisco, homem que tem por Jesus uma alma esposa,
que o arrasta a uma profunda vida contemplativa e que, buscando no evangelho, o
desejo de salvar almas e resgatá-las para Jesus, se lança num trabalho cheio de
amor, dando a sua vida em obediência ao Evangelho e à Igreja, numa castidade
que o tornava transfigurado em Jesus.
Podemos
assim ter a audácia de dizer que a vocação Shalom é também Franciscana, não por
sermos tal e qual São Francisco, mas por perseguirmos este objetivo, por
sabermos que ele intercede por nós e pelo seu exemplo, que nos incentiva a
querermos ser como ele foi.
No auge
da caminhada de Francisco, reunidos certa vez com os irmãos ele dizia:
"Irmãos, comecemos tudo de novo, porque até agora, pouco ou nada
fizemos". É esse carisma, do recomeçar em meio as quedas, do animar-se
diante das fraquezas que move a comunidade Shalom. Francisco torna-se pai da
nossa vocação por uma profunda identidade que sentimos e temos com ele,
identidade que se torna maior, no ponto de sua pobreza, que se traduzia por uma
total dependência da providência de Deus e por um total abandono à misericórdia
e ao amor do Pai.
A pobreza
dos vocacionados Shalom consiste em nós não termos nada, absolutamente nada que
seja nosso, mas tudo é do Reino de Deus, isso se prova quando, por exemplo, um
membro deixa de viver na comunidade, ele individualmente não levará nada,
porque tudo é do Senhor e do seu Reino. Francisco também foi assim, nada,
absolutamente nada, ele quis em vida, até mesmo o nome de seus familiares ele
deixou, pois esse nome impedia sua entrega incondicional a Deus. Descobriu ele
que a pobreza é um dom de Deus que nos dirige à liberdade perfeita, que nos
desapega de tudo e de todos, e nos faz depender somente e totalmente de Deus, e
de sua sábia providência.
Os santos
são presentes de Deus para o mundo, sinais de sua misericórdia e de seu poder,
sinais para nós de que é possível se cumprir no mundo de hoje a vontade de Deus
e abraçar o Evangelho de Cristo como perfeito e radical modelo de vida.
Abraçando esse presente de Deus a comunidade Shalom tem em Francisco um modelo
a ser seguido, um exemplo a ser imitado e assim fazendo, espera ser, também,
para o mundo de hoje modelo e exemplo, para que as pessoas cheguem mais
próximos de Deus. Aleluia!
Fonte: Escola de Formação Shalom
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